ENTREVISTA: “É como se você fosse depressivo por incompetência ou ateísmo”
Nome: Adebal Ferreira Silva Profissão: Professor licenciado em Letras pela UFRN. Bacharel em Direito - Advogado inscrito na OAB/RN. Pós-Graduado em Direito e Cidadania pela UFRN. Idade: 58 ANOS.
Desde quando você tem depressão? A Primeira vez foi em 1992 eu morava em Vera Cruz e fui atendido por um psiquiatra que me receitou Olcadil 1mg e disse que eu ficaria bom e depois de alguns poucos dias realmente fiquei.
Quando você descobriu? Realmente foi somente em dois mil e cinco quando eu morava em Natal e comecei a ter alucinações. Eu vi quando ia saindo de casa com a família um helicóptero caído em cima de mim.
Em algum local específico? Eu morava num condomínio ali próximo ao MYDWAY porque meus filhos estudavam no CEFET e nós decidimos ir morar lá próximo para facilitar para eles.
Teve algum motivo aparente? Nessa época eu fui diagnosticado como portador de síndrome de pânico e passei disse o médico que era estresse devido a minha atividade profissional muito ativa nos movimentos sociais, dormindo pouco, por exemplo. Passei dois meses de benefício pelo INSS.
Foi diagnosticada por algum especialista? Fui por um psiquiatra amigo meu.
Fez/faz algum tratamento? A partir dali eu passei a ser acompanhado por Dr. Salomão Gurgel em Caicó já como portador de Transtorno Afetivo Bipolar. Em 2007 passei mais quatro meses de benefício. Em 2009 passei nove meses afastado do trabalho, de benefício mais uma vez.
Como você está superando? Desde 2015 eu me descobri portador de alcoolismo e esquizofrenia paranoide. Desde então me trato no CAPS AD LESTE III em Natal onde fiquei internado por duas vezes e participo semanalmente às terças-feiras de um Grupo Terapêutico com uma psicóloga e um psiquiatra. Finalmente após ser atendido por seis psiquiatras estou diagnosticado como ESQUIZOAFETIVO. CID F 25.0
O que você aconselha a alguém que esteja passando pelo mesmo problema? A aceitação de que é portador do transtorno e a compreensão da família. Falar sobre o problema é fundamental para o controle juntamente com o tratamento geralmente misto com medicação e terapia. Muitas pessoas geralmente negam a doença e dizem que, por exemplo, algumas mais ignorantes que depressão “É frescura”. Outras pessoas dizem que é falta de Deus e pensamento positivo. Isso realmente é o que machuca mais. É como se você fosse depressivo por incompetência ou ateísmo. Daí o isolamento social.
Como você se sentia antes? Eu tinha o problema e não tinha a consciência que hoje tenho. A minha primeira vez que pensei em suicídio foi em maio de 2013 quando eu morava na Cobra em Parelhas. Eu estava sozinho Marilu estava no Rio com a mãe dela e os meninos estavam em Caicó.
E depois? Passei a me preocupar com mais atenção e vi que o problema realmente era bem maior do que eu imaginava.
Qual foi a reação da família? A família sempre reagiu bem porque Dr. Salomão pediu a presença deles desde a primeira consulta com ele. Isso foi muito importante. Hoje eles percebem como eu era doente e nós não sabíamos.
E hoje como você se encontra? Já superou? Hoje estou de benefício desde o dia 07 de julho de 2015 e o bloqueio intelectual é o que mais me incomoda. Estou travado, inclusive, serei interditado porque não estou conseguindo mais gerir minha vida civil completamente. Para vocês terem uma ideia chego a passar até quatro dias sem tomar banho. Ao ver minha imagem vocês verão que não estou bem.
E quando olha para o passado, o que vê? Vejo que os transtornos mentais e comportamentais são sérios e a depressão é um sentimento que lhe isola que afasta das pessoas. A vontade de morrer é muito grande e permanente e vencer esse sentimento somente com a aceitação. Estudar a doença e participar do tratamento terapêutico são fundamentais para continuar vivo.